sexta-feira, 30 de março de 2012

BALDE DE LIXO

BALDE DE LIXO
Moysés Amaro Dalva
É mister que se coloque
Um balde de lixo ali;
Não importa o preconceito
E os conceitos daqui;
Não importa o ambiente
Que é falso, embora decente.
Eu quero um balde de lixo
Deposto no canto, ali!
Quero ver nele atirados
Esses sorrisos fingidos,
Esses olhares matreiros
Que riem de homens traídos.
Quero ver no fundo dele
Os farrapos miseráveis
Das etiquetas rasgadas
Das falsas donzelas de hoje.
Quero ver nele jogados
Os soutiens poluídos
E os lenços maculados
Por sêmem e falso amor
Eu quero um balde de lixo
Quebrando todo o conceito
Destes tapetes que aparam
Em seu silêncio macio
Todo o amor fictício,
Todo o requinte dos vícios,
Todo o ritual de luxuria
Que, sob portas fechadas,
Tem-se cometido aqui.
Eu quero um balde de lixo,
Cuja presença relembre
Os “baixos” tristes da vida;
Cujo aspecto insidioso
Rememore o abismo fundo
Que, como poço nefando,
Dentro da alma do mundo,
Vá consumindo o orgulho
Dos moradores da casa.
Na sala estética e quente
Eu quero um balde de lixo
Aqui, onde o olhar consome,
Para que ninguém se esqueça
Que por mais que surja e cresça
Não transcende de ser pó
Que um dia tornou-se homem.
**

Nenhum comentário:

Postar um comentário