BALDE DE LIXO
Moysés Amaro Dalva
É mister que se
coloque
Um balde de lixo
ali;
Não importa o
preconceito
E os conceitos
daqui;
Não importa o
ambiente
Que é falso,
embora decente.
Eu quero um balde
de lixo
Deposto no canto,
ali!
Quero ver nele
atirados
Esses sorrisos
fingidos,
Esses olhares
matreiros
Que riem de
homens traídos.
Quero ver no
fundo dele
Os farrapos
miseráveis
Das etiquetas
rasgadas
Das falsas
donzelas de hoje.
Quero ver nele
jogados
Os soutiens
poluídos
E os lenços
maculados
Por sêmem e falso
amor
Eu quero um balde
de lixo
Quebrando todo o
conceito
Destes tapetes
que aparam
Em seu silêncio
macio
Todo o amor
fictício,
Todo o requinte dos
vícios,
Todo o ritual de
luxuria
Que, sob portas
fechadas,
Tem-se cometido
aqui.
Eu quero um balde
de lixo,
Cuja presença
relembre
Os “baixos”
tristes da vida;
Cujo aspecto
insidioso
Rememore o abismo
fundo
Que, como poço
nefando,
Dentro da alma do
mundo,
Vá consumindo o
orgulho
Dos moradores da
casa.
Na sala estética
e quente
Eu quero um balde
de lixo
Aqui, onde o
olhar consome,
Para que ninguém
se esqueça
Que por mais que
surja e cresça
Não transcende de
ser pó
Que um dia
tornou-se homem.
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