quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

CAMINHOS DO SILÊNCIO
Existe um lugar
**Xamã Ererê
Onde tudo faz sentido e se faz sentido.
Onde habita a coerência, onde você
Reencontra a sua singularidade,
Reconhece a sua divindade,
Sente o pulsar do universo
E o percebe como a perfeita projeção
De outras infinitas individualidades.
Existe um lugar
Onde você se aproxima de suas sensações,
De seus sentimentos,
Onde você se visita em outros tempos,
Em outros lugares
E aprende que tempo e espaço
Não são indevassáveis janelas
Que impedem a visão da transcendência.
Existe um lugar
Onde você evolui a consciência
De que viver está além de existir.
Existe um lugar
Onde você constata que
Para viver é preciso prosseguir,
Urgente construir
E essencial sentir.
Esse lugar
É o intenso e precioso silêncio...
Em você..."
Arquivo Amaro Castro Corvo.2014.Out.26

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

NÃO CONTRIBUIREI COM UM SÓ ÓBOLO PARA A CONSTRUÇÃO DO NOVO MUNDO
** ARISTIDES THEODORO
Atenção
Senhores construtivistas, leninistas, trotskistas, marxistas
Utopistas, capitalistas, guevaristas, zapatistas, sandinistas, consertadores do mundo:
Não me procurem, quando passarem com vossas sacolinhas de bocas grandes, devoradoras de ofertas destinadas a reconstrução do Novo Mundo.
Estou fechado para o almoço.
Não me procurem!
Soou o sinal invisível, não estou aqui
Por isso não darei um só óbolo para a vossa campanha.
Não estou a fim de distribuir os folhetos propagadores das vossas novas ideias.
Não empunharei a vossa bandeira utópica.
Não carregarei uma única pedra destinada ao alicerce do Novo Mundo.
Não farei proselitismo em praça pública; não carregarei água para o amálgama dos alicerces; não segurarei as linhas e o prumo que nivelarão as pilastras do novo mundo.
Estou muito ocupado comigo mesmo!
Ocupado em não fazer nada, em bolinar o meu umbigo. Sim, ocupado com o meu imenso individualismo reacionário!
Senhores utopistas, não tenho sonhos, não tenho projetos que engrandeçam a raça humana, portanto quero que o mundo permaneça o mesmo,
que os homens continuem hipócritas e maus,
que as mulheres engravidem a cada lua,
que seus filhos nasçam como ratos e como ratos morram.
Não tenho nada com isso!
Sou por acaso o criador?
Não será o homem um erro da Natureza?
Assim, com o meu niilismo, não quero contribuir com a causa dos companheiros, dos oprimidos, dos camaradas, dos descamisados, dos famintos, dos friorentos, dos “que vêm de longe”, dos excluídos, dos retirantes, dos bóias frias e “todos os condenados da terra” com diria o meu divino Frantz Fanon.
Esse palavrório, idealista, idiotizado, me ofende medularmente, mais que os palavrões de todos os bêbados dos quatro continentes, gritados nas esquinas do mundo.
Detesto palavras de ordem, detesto as frases feitas, programadas.
Detesto as soluções imediatísticas dos salvadores da pátria,
Portanto não quero contribuir com os meus parcos óbolos para a construção do novo mundo!