quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Aos aficcionados do BBB


BIG BROTHER BRASIL
Autor: Antonio Barreto
Fonte: Arquivo Madalena Manga 2011

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão 'fuleiro'
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, 'zé-ninguém'
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme 'armadilha'.

Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Enchem-se de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo herói, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Preocupa-se com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério - não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os "heróis" protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já se tornou imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
"professor", Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mau exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos "belos" na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos "emburrecer"
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto à poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não dêem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
Baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
E vamos ficar calados
Diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal...
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga animal...

** Cordelista natural de
 Santa Bárbara-BA
*

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"NADA DE ESQUECER PERDAS E DANOS"





Uma chacina paira em Campinas
Maria Madalena Manga

Corações repletos de egoísmo,
Em nome do “especieísmo”
E sem rubor na cara
Decretaram holocausto às capivaras
Usam da primazia
Da "superioridade" da hierarquia
Estão no topo da pirâmide
Onde a crueldade se expande
Como gavinhas
De ervas daninha
Tudo é relativo
Envolvendo seres vivos
Mas nem sempre é o grande
muito maior do que o pequeno
É só suprimir o veneno
Que como teia
A maldade enleia.
Não sou dona da verdade.
Mas penso que na eternidade
Na vastidão cósmica
Deva haver outra lógica:
Seres "insignificantes"
Como as capivaras
Podem ser jóias raras
Por serem inocentes
Diferentes dos prepotentes.
-Diz prosaico preceito judaico:
Quem usa de covardia
Com inocentes que Deus cria,
Terá de responder num tribunal
No dia do juízo final.
Que o irmão Francisco
Suspenda o confisco
Da vida desses seres magníficos.
-e que o senhor das eras
Promova a primavera
E faça resplandecer
Um áureo alvorecer
Sobre toda criação:
Homem, planta, animal
São todos irmãos...
Que venha  o mundo de Isaías
Para que todos vivam em harmonia!
(Batalhadora pela Causa Animal em Campinas SP, autora tem publicado "Nos Confins do Arco Íris, Tocha da Paz, Poesia e Protesto,Cânticos do Infinito, 
A Cor da Dor, Meu Outro Eu, Nossas Poesias e atualmente prepara uma Antologia).
**

sábado, 22 de outubro de 2011

Não contribuirei com um só Óbolo para a Construção 
do Novo Mundo
Aristides Theodoro
Fonte: Colégio Brasileiro de Poetas
Atenção Senhores construtivistas, leninistas, trotskistas, marxistas
Utopistas, capitalistas, guevaristas, zapatistas, sandinistas, consertadores do mundo:
Não me procurem, quando passarem com vossas sacolinhas de bocas grandes, devoradoras de ofertas destinadas a reconstrução do novo mundo.
Estou fechado para o almoço. Não me procurem!  Soou o sinal invisível, não estou aqui,
Por isso não darei um só óbolo para a vossa campanha.
Não estou a fim de distribuir os folhetos propagadores das vossas novas idéias.
 Não empunharei a vossa bandeira utópica.
Não carregarei uma única pedra destinada ao alicerce do novo mundo.
Não farei proselitismo em praça pública; não carregarei água para o amálgama dos alicerces; não segurarei as linhas e o prumo que nivelarão as pilastras do novo mundo.
Estou muito ocupado comigo mesmo!
Ocupado em não fazer nada, em bolinar o meu umbigo. 
Sim, ocupado com o meu imenso individualismo reacionário!
Senhores utopistas, não tenho sonhos, não tenho projetos que engrandeçam a raça humana, portanto quero que o mundo permaneça o mesmo,
Que os homens continuem hipócritas e maus,
Que as mulheres engravidem a cada lua,
Que seus filhos nasçam como ratos e como ratos morram.
Não tenho nada com isso! Sou por acaso o criador?
Não será o homem um erro da Natureza?
Assim, com o meu  niilismo, não quero contribuir com a causa dos companheiros,
dos oprimidos, dos camaradas, dos descamisados, dos famintos, dos friorentos, dos
 “que vêm de longe”, dos excluídos, dos retirantes, dos Bóias frias e
“todos os condenados da terra” com diria o meu divino Frantz Fanon.
Esse palavrório, idealista, idiotizado, me ofende medularmente, mais que os palavrões de todos os bêbados dos quatro continentes, gritados nas esquinas do mundo.
Detesto palavras de ordem, detesto as frases feitas, programadas.
Detesto as soluções imediatísticas dos salvadores da pátria,
Portanto não quero contribuir com os meus parcos óbolos para a construção do Novo mundo!
20 de julho de 1996



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

História de um cão

HISTÓRIA DE UM CÃO
Luiz Guimarães Jr.
Fonte – Arquivo Amaro Castro Corvo 1966 
amarocastrocorvo@Gmail.com

Eu tive um  cão. Chamava-se Veludo.
Magro, asqueroso, repelente, imundo,
Para  dizer numa palavra tudo,
Foi o mais feio cão que houve no mundo!

Recebi-o das mãos de um camarada
Na hora da partida. O cão gemendo,
Não me queria acompanhar por nada.
Enfim, malgrado seu o fui trazendo.

O meu amigo, cabisbaixo, mudo, olhava-o!
O Sol nas ondas se abismava.
Adeus me disse. E ao afagar Veludo
Dos olhos seus o pranto borbulhava.

Trata-o bem... Verás como rafeiro
Te indicará os mais sutis perigos.
Adeus!...e que este amigo verdadeiro
Te console no mundo ermo de amigos.

Veludo a custo acostumou-se à vida
Que o destino de novo lhe impusera.
Suas rugosas pálpebras sentidas
Chorava o antigo dono que perdera.

Nas longas noites de luar brilhante,
Febril, convulso, pálido, agitando
A nua calda caminhava errante,
À luz da Lua, tristemente uivando.

Toussenet, Figuiet e a lista imensa
Dos modernos zoólogos doutores,
Dizem que o cão é um animal que pensa.
Talvez tenham razão esses senhores!

Lembro-me ainda, trouxe-me o correio
Cinco meses depois, do meu amigo,
Um envelope fartamente cheio.
Era uma carta. Carta!...Era um Artigo!

Contendo a narração miúda e exata
Da travessia. Dava-me importantes
Notícias do Brasil e de La Plata,
Falava em rios e árvores gigantes...

 Assombrava-se ainda com a ligeira
Moralidade que encontrara a-bordo.
Contava o caso de uma passageira...
Mil coisas mais de que não me recordo.

Finalmente por baixo disso tudo,
Em nota bene do melhor cursivo,
Recomendava o pobre do Veludo.
Pedindo a Deus que o conservasse vivo.

Enquanto eu lia, o cão tranqüilo e atento
Contemplava-me. E creia que é verdade!
Vi comovido... vi nesse momento
Seus olhos gotejarem de saudade.

Depois lambeu-me as mãos humildemente.
Estendeu-se aos meus pés, silencioso.
Moveu a cauda - Adormeceu tranqüilo
Farto de um puro e satisfeito gozo. -

Passou-se o tempo. Finalmente um dia,
Vi-me livre daquele companheiro.
Veludo para nada me servia.
Dei-o à mulher de um carvoeiro

E respirei. Graças a Deus já posso
Dizia eu- Viver neste bom mundo
Sem ter de dar diariamente um osso,
À um bicho vil, à um feio cão imundo.

Gosto de animais, porém prefiro
À essa raça baixa e aduladora,
Um alazão inglês de cela ou tiro,
Ou uma gata branca e cismadora.

Mal respirei, porém, quando dormia,
E a negra noite amortalhava tudo,
Senti que à minha porta alguém batia.
Fui ver quem era... Abri... Era Veludo!

Saltou-me às mãos... Lambeu-me os pés ganindo...
Farejou toda a casa, satisfeito.
E, de cansado, foi rolar dormindo
Como uma pedra, junto do meu leito.

Praguejei  furioso! Era execrável
Suportar esse hóspede importuno
Que me seguia como um miserável
Ladrão ou pérfido gatuno!

E resolvi enfim!...Certo, é custoso
Dizer em voz alta e confessá-lo.
Para livrar-me desse cão leproso,
Havia um jeito só... Era matá-lo!

Zunia a asa fúnebre do vento.
Ao longe o mar. na solidão... Gemendo
Arrebentava em uivos e lamentos,
De instante a instante ia o tufão crescendo.

Chamei Veludo. Ele surgiu-me. Entanto
A fremente borrasca me arrancava
Dos frios ombros o revolto manto.
A chuva meus cabelos fustigava...

Despertei um barqueiro. Contra o vento,
Contra as ondas, coléricos, vogamos.
Dava-me força o torvo pensamento.
Peguei um remo e com furor remamos...

Veludo, à proa, olhava-me choroso
Como um cordeiro no final momento.
Embora!...  Era fatal!...  Era forçoso,
Livrar-me enfim desse animal nojento.

No largo, ergui-o nos meus braços,
Arremessei às ondas num repente.
Ele moveu gemendo os membros lassos
Lutando contra a morte. Era pungente!

Voltei a terra. Entrei em casa. O vento
Zunia sempre na amplidão profundo.
Pareceu-me ouvir o atroz lamento
De Veludo, nas ondas, moribundo.

Mas, ao despir dos ombros o meu manto,
Notei - ó grande dor - haver perdido
Uma relíquia que eu prezava tanto.
Era um cordão de prata. Eu tinha-o

Unido contra o coração constantemente
E o conservava com o maior recato.
Pois minha mãe me dera essa corrente
E suspenso à corrente o seu retrato.

Certo caíra além, no mar profundo,
No eterno abismo que devora tudo.
E fora o cão! Foi esse bicho imundo
A causa do meu mal!...Ah, se Veludo,

Duas vidas tivera, duas vidas,
Eu arrancara áquela besta morta,
E áquelas vis entranhas corrompidas...
Nisto ouvi uivar á minha porta...

Veludo arfava. Penetrou-me o quarto
Estendeu-se a meus pés e docemente
Deixou pender da boca o tal retrato,
Suspenso à fina ponta da corrente

Fôra crível, ó Deus!...Ajoelhado
Junto ao cão, estupefato... Absorto!....
Palpei-lhe o corpo, estava engerelado!
Sacudi-o!...Chamei-o!...Estava morto.
**