quarta-feira, 13 de julho de 2011

Maria Madalena Manga
Ao sol nascendo,
Á caminho da UNICAMP
...e, a noite tira suas vestes lentamente.
Dama requintada faz um “strip tease” divino...
Desnudando seu corpo em manhãs de alvoradas.
Nasce a aurora.
O dia é o corpo nu da noite.
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Solidão

Pelos caminhos da Noite
Ando á procura de mim.
Névoas soltas, sombras longas;
Tristes silêncios de alfombras;
Tic-tac de relógio
Marcando horas sem fim...

Um cão latindo distante
Ecoando a madrugada,
Traz anseios de alvorada
Que insiste em não raiar...
Sons esquisitos de brisa
Assoprando no beiral,
Assombra meu quarto escuro
Com eco estranho de medo.

Rangidos baixos, discretos,
Apavorando esta insônia
Põem olheiras de morte,
Na secura dos meus olhos...

Nas fímbrias frias da aurora
Na antemanhã de mim,
Meus parcos cabelos brancos,
Emoldurando meu rosto
Franzido de porcelana,
De uma velhice sombria,
Profetizam o Amanhã!...

Pelos caminhos da Noite
Lá me vou... Em rumo á aurora
Que forceja as frias trevas
E não consegue raiar.
Pobre de mim, já passado,
Escondido na penumbra
Deste meu quarto de invernos,

Pelos caminhos da Noite,
Sem amor... Eis-me a chorar...

sábado, 9 de julho de 2011

O Quarto Mago

O Quarto Mago
Moysés Amaro Dalva

Cuidando do interesse desta vida,
Atrasou-se na hora da partida.
Perdeu-se, enfim, dos seus irmãos clementes.
Mas... Interesseiro, egoísta, vil, mesquinho,
Tomou de seu camelo e, assim, sozinho,
Pôs-se á caminho rumo ao oriente.

O destino real, Belém Efrata,
Era sua comum desiderata,
Como afirmava velha profecia.
Buscava o impossível... Um menino
Mansamente deitado, por destino,
Em uma manjedoura dura e fria.

Não tinha guia o usurário viajeiro.
Sob a capa, a bolsa do dinheiro,
Era sua companheira de jornada.
Não cria, nem em Deus nem no diabo,
Eram crenças criadas por nababos,
Sacerdotes e reis, essa “cambada”,
Dominadora do trono e do poder.

Era apenas um mago seguindo o seu dever
Na verificação das profecias.
Sabia da importância das estrelas.
Passava noites olhando o céu; ao vê-las,
Buscava interpretar o que dizia.

E transmutava a informação em ouro.
Entendia de oráculo e tesouro.
Era um atrós, avarento vendedor.
Mestres, revelações, palavras de consolo,
Verdades chilreadas e intenções de dolo,
Eram coisas comuns ao mago sem amor.

Deveras!
Trouxe Abraão á escravidão no Egito.
Trocou-o pelo mestre Trimegisto
E o vendeu –após- aos gregos sábios.
Negociou poderes com Baal,
Com Molok, com Marduk - deus do mal -
Mentiu de todo coração e lábios.

Desde a velha Suméria até Arã:
Desde Moabe, aos altos do Irã:
Nada escapava ao mestre mercenário.
Vendia sua ciência e sua alma
Com todo o empenho mau, com toda a calma,
Com todo o cinismo necessário.

O mundo antigo, enfim, era sua roça.
Famoso mago, do palácio á choça,
Era temidamente respeitado.
Nada sabia de religião prática
Sua ciência era pragmática
Composta de “despachos” e “tratados”.

Pragmático mau de humanos ritos,
Sabia bruxarias, crenças, mitos,
E tudo o mais que o ‘Cósmico’ encerra.
Mistificava falsos resultados,
Desde Delfos aos sátiros danados.
Desde Jeovah aos trambolhões da Terra.

Quando Akenaton desistiu de Amon,
Lá estava ele, nos porões de Áton,
Tecendo intriga ao frater Faraó,
Vendendo sua magia de golpista,
Para depor o rosacruz deísta
Servo do povo e iniciado de um Deus só.

Agora, em busca da Judéia propalada,
Em seu camelo, seguia velha estrada,
Pensando o destino. Tinha medo.
Bem conhecia o Deus daquele povo,
Que prometera a cepa de um renovo,
No filho de uma virgem. Puro... Ledo...

Chegou, por fim à Belém, já muito tarde.
José, se fora, de manso e sem alarde,
Para o Egito, fugindo dos sicários.
Seus irmãos magos deixaram seus presentes,
Aos pés de Maria, e indo em frente,
Fundaram uma Ordem de Templários.

Não desistiu. Sabia bem da glória
De um nascimento, marcado pela história
De uma estrela caudal, pelo poente.
Lucro na certa! Uma fonte pura
Para consolo de toda a criatura
Sedenta de justiça, amor e fé.

E buscou o menino. Do Egito á Eduméia,
De Nazareh, Cafarnaum, em toda a Galiléia ,
Do mar de dentro até Jerusalém;
Da Canah dos gentios até Tabor - o monte
Da transfiguração – até o horizonte
Das montanhas a oeste de Siquém.

Nada encontrou. E assim, por atrasado,
Buscou por todo o canto, todo o lado.
Não encontrando o Avatar predito.
Porém ouviu historias nas estradas;
Contavam curas, vidas consertadas,
Perdão ás Madalenas, consolo aos precitos.

Como não viu a manjedoura das ‘antanhas’.
Não pode ouvir os ditos da Montanha,
Nem a transformação do vinho desejado,
Não viu o paralítico andando,
Não viu o cego curado, o coxo caminhando,
Não viu o pão sendo multiplicado.

Não viu, seguindo invisíveis fulcros,
 Lázaro, o morto, saindo do sepulcro,
Não viu o Filho do Homem ser julgado.
Do  Batista não ouviu dissertação,
Nem pomba, nem batismo no Jordão,
Nem provações no deserto ensolarado.

Esteve no cenáculo da ceia.
No pretório de Pilatos, entre as ameias,
Não viu Pedro negando o Mestre amado.
Esteve com Herodes; no Calvário,
 Viu o sepulcro vazio; e o cenário
Da pedra removida, - Atrasado! –
Mas viu história de gente e de vidas,
Pela influencia do Mestre, redimidas,
E compreendeu num lance mercantil;
Todo o poder vendável imanente
Da mensagem do Mestre inteligente,
Que ele, atrasado buscou, porem não viu.

Organizou-se o mago. E pôs-se a campo.
Elencou os ensinos e outro tanto
De “Feitos” e não Feitos por Jesus.
Criou o corpo de doutrina necessário
Unindo a Manjedoura ao Calvário
Unindo o berço ao lar, o amor à cruz.

Armou assim seu laço temerário
De uma nova religião, cujo fadário
Testemunhou por boca de terceiros.
Mas convenceu o mundo, e arrancou tesouro,
De propriedades, poder, sabedoria e ouro,
À custa da memória de um pobre carpinteiro.
Campinas 02.01.2007