quinta-feira, 31 de março de 2011

HINO AO AMOR -


 Madalena Manga
Ouça amor, no cosmo em plenitude,
No denegrir dos céus em seus confins,
Na leveza da tarde em quietude,
No espetáculo de um sol em festins,

No bailar em chamas dos ares,
Na canção do universo em calmarias,
No encapelar de fogo em mares,
No sussurro de adeus do dia,

Na humilde prece que reza o monte,
Contemplando, extasiado, a beleza
Nas mãos do Criador no horizonte

Um amor de unissonância mesma:
Sussurro de mudez da mesma fonte,
Resumo de alma, corpo e natureza...
*

EM UMA AULA PSI



EM UMA AULA DE PSICOLOGIA NO I M S




Não tenho mais poesias
Para poder contraPOR
Á esta aula vazia
Desta ciência Psi...
E o Diabo é que a “chamada”
Não inda realizada;
Não posso sumir daqui.

“Tudo na vida é objeto”
diz do douto professor;
e eu me sinto abjeto
face a tanto desamor;
“O ideal é um objeto”,
diz, em linguagem “chulé”.
Eu cá...me vou afundando,
Xingando, blefando, sacaneando,
Que “Psi..” já não dá pé!

“Somos fantoches de gente,
E a gente se envergonha”,
Vai perorando o meu mestre,
E eu me sinto sem vergonha,
Para confessar que sou
Um poeta sem poesia,
Dentro da aula vazia
Dos substratos da Fé.

Elaboração do Homem
Sob o prisma topológico...
O professor é “tão lógico...”
Pragmatizando assim,
Que eu – poeta pequeno –
De branco fico moreno
De ser tão pequeno em mim!

Estou parado e por fora
Da esquemática Psi...
A classe quase masturba
Sobre as idéias que, aqui

São jogadas, bem a gosto
Da conjuntura atual,
Somando com a teoria
A praxe perimetral
Das distonias do Tempo
Do Homem diagonal.

“Nossa neurose é conflito
e os amassos são culposos”,
mentalmente a classe ensaia
o seu “Insight” de gozo,
na referência precoce
de prazer sexual
desta Odontologia
que ia bem e ora vai mal.

Lá vem “chulé” novamente
E o homem vem da “Sorbone”!
Professor-doutor Psi,
Que o Diabo o abandone!
Tem “chulé” por todo o canto
Nesta palestra formal;

Caramba! – também “swingue”
Entrou na gíria normal!
Aos diabos, caro mestre,
Esta sua pregação.
Vou questionar Karl Marx
Dentro da minha consciência,
Enquanto a sua clemência
Pela ciência Psi...
Vai prosseguindo, eu ma calo.

Vou pensar na minha tarde
De berçários e opressão;
Você fala em “Conjunturas”,
Eu quero a “Revolução”.

São Bernardo do Campo, 05.05.1981

sábado, 26 de março de 2011



aSincero Desejo
                                  Madalena Mangada
Se eu pudesse colher estrelas,
todo dia eu levaria uma para você.
Se eu pudesse chegar ao sol
eu pegaria um raio de luz só para você.
Se eu pudesse encontrar o pote do arco-íris
eu daria todas as cores para você.

Se eu pudesse chamar todos os passarinhos
eu os faria cantar para você.
Mas não sei colher estrelas,
não posso chegar ao sol,
nem sei onde está o pote do arco-íris.
Não sei chamar os passarinhos...
Mas eu sei que posso dar-lhe o que de
mais forte existe em mim:
Meu desejo de vê-lo  sempre feliz!

Super Star

SUPER STAR
        Amaro Castro Corvo

 Como estás mudado, amigo meu de infância!
Os cabelos ainda os têm compridos,
E ainda tens a barba ruiva e bela.
Os olhos claros ainda guardam a essência
De mundos distantes coloridos,
Jamais sonhados pelo humano olhar.

O corpo esbelto, soprado pelas brisas,
Queimado pelas soalheiras dos caminhos,
Ainda os tens, flexivelmente atlético.
Os pés, empoeirados como antes,
Calçam eternas sandálias poluídas
Pelos cascalhos da vereda incerta.

Um pouco mais idoso, já quarentão, disfarças,
Num sorriso bondoso, algumas rugas,
Disfarçadas com arte, sob a barba.

Mas... Como estás mudado, Amigo meu de Infância!

Aonde deixaste a túnica inconsútil
Tecida em linho rude, em roca antiquada?
Onde arranjaste –amigo- esta curtíssima
E pré-encolhida calça Lee?
Como trocaste, assim, tão de repente,
O cordel de sisal que antes trazias
Como cinto de humilde carpinteiro,
Por este cinturão dourado e largo?

Viraste hippie, Amigo?

Tua camisa, bela, estampada,
Contém letreiros de exércitos estrangeiros
E divisas de força imperialista!
Essa medalha que no peito trazes,
Guarda toda a revolta incontestada
Contra o evangelho que pregaste um dia.
Essa medalha que no peito trazes
É um desafeto grande – Amigo -  É uma ironia!

Como mudaste Amigo meu de Infância!

Hoje, em lugar daquela cruz pesada
Traze as mãos encordoadas por guitarra.
Fumas maconha, Amigo?

As palavras que dantes proferistes,
Que proferistes dantes nos caminhos,
Tão doce quanto o mel, quanto a alvorada,
Vem hoje mesclada com cheiro de cigarros,
Poluídas com gírias e estribilhos,
Emprestados á imprensa interesseira.

Visitastes outro dia – que vexame! -
Um cirurgião plástico de renome
Para apagar das mãos algumas cicatrizes,
Deixadas, no passado, por uns pregos,
Batidos por ferrenhos ex-inimigos,
(que hoje cantam como Crooners
em teu conjunto moderno).

Ficaram belas tuas mãos, Amigo!
Ficaram belas tuas mãos, no entanto,
A benção esperada como dantes
Não pousam mais nas tuas mãos cirurgiadas;
E o pão que partes nos salões grã-finos ,
O pão que partes, já não multiplicas,
Como fizeste no deserto outrora,
Nem os peixinhos que, debalde, agora,
Esmiúças nos faustos dos banquetes
Guardam aquele sabor de alimento abençoado.

Amigo meu – como estás transformado!
Como mudaste assim, Amigo meu de infância!
Como mudaste!...