sábado, 26 de março de 2011

Super Star

SUPER STAR
        Amaro Castro Corvo

 Como estás mudado, amigo meu de infância!
Os cabelos ainda os têm compridos,
E ainda tens a barba ruiva e bela.
Os olhos claros ainda guardam a essência
De mundos distantes coloridos,
Jamais sonhados pelo humano olhar.

O corpo esbelto, soprado pelas brisas,
Queimado pelas soalheiras dos caminhos,
Ainda os tens, flexivelmente atlético.
Os pés, empoeirados como antes,
Calçam eternas sandálias poluídas
Pelos cascalhos da vereda incerta.

Um pouco mais idoso, já quarentão, disfarças,
Num sorriso bondoso, algumas rugas,
Disfarçadas com arte, sob a barba.

Mas... Como estás mudado, Amigo meu de Infância!

Aonde deixaste a túnica inconsútil
Tecida em linho rude, em roca antiquada?
Onde arranjaste –amigo- esta curtíssima
E pré-encolhida calça Lee?
Como trocaste, assim, tão de repente,
O cordel de sisal que antes trazias
Como cinto de humilde carpinteiro,
Por este cinturão dourado e largo?

Viraste hippie, Amigo?

Tua camisa, bela, estampada,
Contém letreiros de exércitos estrangeiros
E divisas de força imperialista!
Essa medalha que no peito trazes,
Guarda toda a revolta incontestada
Contra o evangelho que pregaste um dia.
Essa medalha que no peito trazes
É um desafeto grande – Amigo -  É uma ironia!

Como mudaste Amigo meu de Infância!

Hoje, em lugar daquela cruz pesada
Traze as mãos encordoadas por guitarra.
Fumas maconha, Amigo?

As palavras que dantes proferistes,
Que proferistes dantes nos caminhos,
Tão doce quanto o mel, quanto a alvorada,
Vem hoje mesclada com cheiro de cigarros,
Poluídas com gírias e estribilhos,
Emprestados á imprensa interesseira.

Visitastes outro dia – que vexame! -
Um cirurgião plástico de renome
Para apagar das mãos algumas cicatrizes,
Deixadas, no passado, por uns pregos,
Batidos por ferrenhos ex-inimigos,
(que hoje cantam como Crooners
em teu conjunto moderno).

Ficaram belas tuas mãos, Amigo!
Ficaram belas tuas mãos, no entanto,
A benção esperada como dantes
Não pousam mais nas tuas mãos cirurgiadas;
E o pão que partes nos salões grã-finos ,
O pão que partes, já não multiplicas,
Como fizeste no deserto outrora,
Nem os peixinhos que, debalde, agora,
Esmiúças nos faustos dos banquetes
Guardam aquele sabor de alimento abençoado.

Amigo meu – como estás transformado!
Como mudaste assim, Amigo meu de infância!
Como mudaste!...



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