sábado, 22 de outubro de 2011

Não contribuirei com um só Óbolo para a Construção 
do Novo Mundo
Aristides Theodoro
Fonte: Colégio Brasileiro de Poetas
Atenção Senhores construtivistas, leninistas, trotskistas, marxistas
Utopistas, capitalistas, guevaristas, zapatistas, sandinistas, consertadores do mundo:
Não me procurem, quando passarem com vossas sacolinhas de bocas grandes, devoradoras de ofertas destinadas a reconstrução do novo mundo.
Estou fechado para o almoço. Não me procurem!  Soou o sinal invisível, não estou aqui,
Por isso não darei um só óbolo para a vossa campanha.
Não estou a fim de distribuir os folhetos propagadores das vossas novas idéias.
 Não empunharei a vossa bandeira utópica.
Não carregarei uma única pedra destinada ao alicerce do novo mundo.
Não farei proselitismo em praça pública; não carregarei água para o amálgama dos alicerces; não segurarei as linhas e o prumo que nivelarão as pilastras do novo mundo.
Estou muito ocupado comigo mesmo!
Ocupado em não fazer nada, em bolinar o meu umbigo. 
Sim, ocupado com o meu imenso individualismo reacionário!
Senhores utopistas, não tenho sonhos, não tenho projetos que engrandeçam a raça humana, portanto quero que o mundo permaneça o mesmo,
Que os homens continuem hipócritas e maus,
Que as mulheres engravidem a cada lua,
Que seus filhos nasçam como ratos e como ratos morram.
Não tenho nada com isso! Sou por acaso o criador?
Não será o homem um erro da Natureza?
Assim, com o meu  niilismo, não quero contribuir com a causa dos companheiros,
dos oprimidos, dos camaradas, dos descamisados, dos famintos, dos friorentos, dos
 “que vêm de longe”, dos excluídos, dos retirantes, dos Bóias frias e
“todos os condenados da terra” com diria o meu divino Frantz Fanon.
Esse palavrório, idealista, idiotizado, me ofende medularmente, mais que os palavrões de todos os bêbados dos quatro continentes, gritados nas esquinas do mundo.
Detesto palavras de ordem, detesto as frases feitas, programadas.
Detesto as soluções imediatísticas dos salvadores da pátria,
Portanto não quero contribuir com os meus parcos óbolos para a construção do Novo mundo!
20 de julho de 1996



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